domingo, 13 de março de 2011

Pensando no Japão


Foto: O Globo

Depois das notícias estarrecedoras sobre o terremoto no Japão, tenho acompanhado os noticiários com muita tensão.

Além de ser o país do meu pai, dos meus avós, o Japão adquiriu um grande significado para mim nos últimos anos, pois foi falando de tengus, de nekomatas, de samurais e de cortesãs, que pude chegar a tantos leitores e amigos que têm me acompanhado nos últimos dois anos, depois do lançamento de “Kaori: Perfume de Vampira”.

E agora, enquanto mergulho num novo livro de Kaori, do qual estou escrevendo os últimos capítulos, estou vendo a terra que o inspirou em cenas impressionantes na TV. É muito triste.

Imagino os templos milenares, as antigas florestas com suas árvores preservadas com tanto cuidado por gerações de japoneses, as pequenas estatuetas de Buda que permaneceram nas trilhas das montanhas por tanto tempo, em meio a esse lama.

Imagino os youkais, onis, obakes e todas as criaturas da fascinante mitologia japonesa assistindo, tristes, à passagem daquelas águas muito mais assustadoras do que eles próprios.

Imagino os grandes samurais do passado, cheios de argúcia e coragem, estarrecidos com o estrondo da explosão em Fukushima.

Imagino Inuyasha, Kimba, Kitarou, os Gundams, tantos personagens de mangás e animes que fizeram parte de nossas vidas, impotentes, as armas abaixadas, cheios de tristeza por nada poderem fazer.

Porque tantas coisas do Japão têm exercido uma grande influência em muitos aspectos de nossa vida, porque a cultura japonesa está presente em quase tudo à nossa volta, somos presos de profunda melancolia ao vermos as cenas do terremoto. Pois, além da tristeza pelos mortos, cujos números continuam a aumentar, há um medo latente de que o Japão, como nós conhecemos e admiramos, deixe de ser o que é.

Porque, se isto acontecer, não serão apenas os japoneses que sofrerão essa perda. O mundo também perderá coisas importantes, especiais. Acho que não é preciso ser um descendente de japoneses para se sentir assim. Acho que muitos de vocês sentem o mesmo.

No entanto, os templos milenares no Japão são totalmente reconstruídos de tempos em tempos com os mesmos materiais, técnicas, rituais, para o mesmo fim. Nada do que vemos nesses lugares são verdadeiramente antigos – a não ser o espírito do povo que o idealizou.

Os japoneses sempre tiveram consciência da efemeridade do mundo material. O povo Japonês continuou persistindo durante tanto tempo em manter a sua cultura, o seu espírito, a sua maneira de ser e agir, porque abdicou, no passado, da ideia de permanência física de suas manifestações. O que importa não é o objeto, o templo, o castelo. Mas a ideia, o espírito contido neles. E, este, enquanto existir um japonês vivo, continuará a existir, voltando sempre a se materializar na eternidade desse movimento de renascimento e morte.

Imagino que o povo japonês, agora, esteja, é claro, chorando pelos seus mortos. Lamentando-se pela fome, pelo frio, pela falta de recursos acarretada pela catástrofe. Que esteja angustiado com o futuro do seu país.

Mas, acima de tudo, acredito que o seu sentimento mais forte, neste momento, é o de fazer aquilo que sempre fez, desde épocas remotas: refazer. Trazer de volta a este mundo físico o espírito contido em cada pequeno objeto levado pelas águas ou soterrado pela terra.

Porque enquanto cada indivíduo mantiver vivo na sua mente o espírito da terra, do povo e do que o faz diferente e único, ele será eterno.

E, talvez, isto seja uma lição que este terremoto tenha vindo ensinar. Não apenas para os japoneses, mas para nós, do resto do mundo.


***
P.S.: O meu j-rocker preferido, GACKT, acaba de lançar um site para arrecadar doação para as vítimas das enchentes, o SHOW YOUR HEART, com a adesão de vários outros artistas.

2 comentários:

Bondgirlpatthy 007 disse...

Querida, diante de tanta desolação das imagens da TV (q estou até evitando pelo meu próprio bem) eu fiquei pensando em vc, em sua angústia por seus parentes e amigos. Sei q ninguém pode fazer nada mas quero q vc saiba q estou aqui p/ ao menos tentar consolar vc e fazê - la superar isso tudo na medida do possível. Conte comigo amiga, vc sempre esteve em minhas orações mas nesses dias especialmente pedirei q Deus te conforte e te guarde. Conta c/ isso amiga, a hora q vc precisar, estou de braços e coração aberto p/ vc. Fica bem. Bjs c/ carinho.

Giulia Moon disse...

Obrigada, querida Miss Bond. Eu não tenho parentes conhecidos no Japão, mas há alguns familiares de amigos queridos que vivem lá. Graças a Deus, eles estão bem.
Mas é muito bom receber a sua palavra de carinho.